“Na época atual, a fatalidade de toda e qualquer arte é ser contaminada pela inverdade da totalidade dominadora.” (Adorno)
A arte, como um trabalho intelectual que amplia a experiência que o homem tem do real e do imaginário, opõe-se ao trabalho alienante da sociedade moderna. Por outro lado, no meio de arte, convivem compromissos e interesses alheios à própria arte; suas condições de produção encontram-se dentro de um campo social e político, sujeito a um conjunto de pressões. O Estado, os patrocinadores e o mercado, visando a interesses imediatos, privilegiam, muitas vezes, artistas cujas obras pouco acrescentam ao mundo da inteligência.
No espetáculo montado pela política, tudo se confunde, tudo passa pela ideologia do poder e pela estética do espetáculo, como a educação, a economia, a ecologia e os discursos políticos. Nesse palco, a cultura foi relegada a uma coisa mundana, uma espécie de conhecimento ornamental que serve à mídia e ao jogo social; a arte perdeu sua singularidade e suas qualidades que a colocavam acima das banalidades do cotidiano, deixando de ser o olhar que interroga, que transforma cores, texturas, formas, experiências sensoriais em meio de conhecimento. Nesta relação entre cultura e poder, insere-se a “crise da arte”, na qual o poder tem prevalecido sobre a pesquisa estética.
Enquanto trabalhos com alguma importância pela pesquisa neles investidos passam despercebidos, trabalhos diluidores da informação, reproduções de clichês divulgados pela mídia são celebrados pelos consumidores de decorações e divertimentos culturais. Uma sociedade sem demandas culturais acaba fazendo da arte uma atividade menor. O cotidiano da política e da economia faz o discurso que se infiltra em todos os espaços, expulsando a cultura para a periferia dos interesses da cidadania. Os artistas que, mesmo sem construírem uma obra, têm os seus reconhecimentos garantidos pela indústria da publicidade, sobrepõem-se àqueles que tem uma vida dedicada à pesquisa e ao trabalho de edificar uma linguagem, contribuindo para a demolição da pseudo-ética vigente e do pensamento crítico.
Sem uma consciência crítica e sem uma convicção ética, artistas, críticos, intelectuais, administradores culturais inventados pela mídia e pelo poder político tomam posição e decidem contra a autonomia e a independência do
trabalho de arte. Promovem e divulgam os bens culturais em proveito próprio, para se sustentarem de forma privilegiada numa relação de poder. Nada mais paradoxal, por exemplo, do que essas leis de incentivo à cultura. Por que incentivar a cultura se ela é um componente essencial para o enriquecimento da sociedade? Antes de ser uma questão de lei, a cultura é uma questão de sensibilidade e de cidadania.
Há um desinteresse geral pela cultura que ocupa um lugar cada vez menos importante nos discursos do cotidiano. Para ser artista, antes de tudo, é preciso ter um tráfego de influências pessoais, acesso à mídia e aos patrocinadores, que fazem da arte um produto incapaz de atribuir um sentido à existência da sociedade. E quem realmente patrocina a arte? “Os contribuintes pagam aquilo que as empresas recuperam através de isenções fiscais pelas suas doações, e somos nós que verdadeiramente subvencionamos a propaganda.” (Hans Haacke). Numa sociedade comandada pela economia, tudo se resume à lei da oferta e da procura.
A arte, burocraticamente falando, é mais uma imagem carente de sentido que divulga um certo prestígio social e econômico, e menos um meio de conhecimento indispensável para o homem contemplar o mundo. Se a obra de arte é expressão de uma sociedade, testemunho de um tempo, de um estágio de conhecimento, renunciar à sua inteligibilidade é renunciar à História.
A política, por sua vez, apropriou-se da cultura e fez dela um verniz para animar ou dar um polimento ao discurso político. A arte perdeu sua inocência, ela agora é objeto do mercado, do Estado e de outras instituições que desconhecem seus mecanismos de produção e sua História. Se os partidos políticos que falam de cultura em seus programas de campanha querem fazer alguma coisa pela cultura, não deveriam fazer coisa alguma, mas, sim, devolver aos intelectuais, aos artistas, a quem trabalha diretamente com a cultura, o poder de decisão e o comando do processo cultural. É preciso devolver à arte seu território perdido.
Quem atualmente exerce o poder sobre o destino dos bens culturais, trabalha, direta ou indiretamente para o mercado, ou é burocrata de carreira que pouco entende das linguagens artísticas e suas leituras. Acabam desprezando os seus valores à serviço do senso comum. Muitas instituições que lidam com a arte, sem recursos econômicos e sem um corpo técnico ligado à área, perderam a importância e a autonomia, quando não são agências de eventos irregulares sem um projeto definido. A mídia dominou a cultura e o artista deixou de lado a indagação da linguagem da arte, abandonou a solidão do atelier, para se tornar um personagem público do teatro social. E a proliferação de um produto designado como arte e do discurso estético, sem a arte, pode significar o desaparecimento da própria arte.
Um texto excelente que descreve a situação do fazer artístico neste país. O descaso foi programado e é consequência de medidas coercitivas na área da educação, sendo uma dessas medidas a reforma do ensino pela Lei de Diretrizes e Bases, principalmente a editada em 1961, e outras subsequentes que pouco-a-pouco retiraram do ensino o caráter universalista e seu instrumental preparatório à absorção de conhecimentos e desenvolvimento do raciocínio. A arte requer uma visão e uma visão reflexiva, ligada à sensibilidade e à alma. A arte solicita ao espectador uma visão não só reflexiva, mas tambem uma ATITUDE. Mas as pessoas não tem posição para uma atitude, faltam-lhes os apetrechos simples, disponíveis até para crianças e animais. Quanto à atitude a ter ao observas a arte, falo do respeito.
Na década de 70 o meio artístico, ainda sem galerias e mercadologias foi tomada por pessoas estranhas ao meio, sem qualquer feedback, Organizadas, conseguiram, mesmo sem formação, galgar posições como "artistas"e até mesmo participar das Bienais de Veneza, com suas propostas semi-pimitivas, improvisadas, tudo muito apoiado pelos Itamaratys, políticos provincianos de Brasilia, dondocas desocupadas. Os verdadeiros artistas, gente seríssima ficou abaixo do 2º plano, pois não deu para se misturar e ser confundido com "artista". Essa visão, de que para fazer arte o sujeito ter que ser "artista" generalizou-se. Para completar, um mercador influente passou a defender a criação de uma "nova Arte", pois o Brasil seria um país alegre, cheio de fruta, um país para uma arte alegre". Por inflência deste pensamento "otimista" o excelente Instituto de Belas Artes da UFRJ foi fechado. Professores como Leao Veloso, José Guilherme Merchior, Edith Behring
Flecha Ribeiro, Carlos Cavalcani foram dispensados e o IBA encerrou suas atividades. Para substituir a instituição, o estado co Rio deixa-se influenciar pela ideologia de uma "arte alegre e jovem" com bandas de rock para atrair os jovens, e assim foi criada a Escola do Parque Lage, de Artes Visuais, cujo nível de ensino nada tinha a haver com qualquer proposta mais séria, a não ser uma "arte alegre". Assim foi criada a geração 80, com vários de seus membros que sequer sabiam desenho. Mesmo assim, mais tarde compareceram com sua "obras "na Bienal de Veneza, com catálogos caríssimos, cujo maio conteúdo era de fotos de Carmem Miranda, de dois artistas norte-americanos e apenas 10% de espaço para o autor da representação da obra (medíocre)representativa do Brasil... A nação brasileira permite esse tipo de situação porque tem o maior descaso com a arte. E este descaso praticamente criado com a ingerência de forças opostas ao país e graças à ignorância e prsunção de maus brasileiros, ou gente sem qualquer representatividade que inverte situações e alcança o poder. Na semana passada avistei a triste paisagem das casas muito feias, das roupas feias, das pessoas feias e gordas, o olhres vazios, e pensei: falta urbanismo, falta arquitetura, falta arte, Então fica tudo feio. É assim que se quer, uma total falta de preocupação estética. A escassês de moeda deixa de ser pretexto, pois a pobreza é OUTRA.
O político presunçoso, provinciano, corrupto, inculto, machista, feio, ávido, espertalhão, como é geralmente o político de qualquer prtido no Brasil, acha que "cultura" é coisa supérflua, e ARTE, uma expressão ao gosto das elites...e aí cria sua demagogia contra as "elites", rumo à luta de classes. Então não é àtôa que Tânatos vem ganhando a parada, pois a violência nunca foi tanta neste país, reflexo de uma faceta do poder que se instalou à custa de manobras espertas. A produção artística, que começou a cair na década de 80, graças a todos estes fatores tão bem enumerados por Almandrade, voltou-se a uma marginalidade quase sem retorno. Em consequência, a nação perdeu o contacto com a contemporaneidade, e não tem nenhuma representatividade, o que equivale dizer que não emite selo ou moeda, e muito mais grave do que isso. Nações jovens como o Cazaquistão, Burkina Faso, ou Mexico, Guatemala, Argentina, Uruguay, Portugal etc se fazem representar por suas produções artistica. Mas o Brasil não...O falso otimismo dos políticos macro-econômicos é ridículo, simplesmente porque arte faz parte da economia, embora seja alheia ao monetarismo vigente.
Evany Fanzeres
E. Fanzeres -www.fanzeres.com
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